E os óio se enche d'água
Carlos Gustavo Yoda Filed Under: Marcadores: despedida, Pena Branca, sertanejoEm 2006, tive a oportunidade de entrevistar Pena Branca via telefone para uma matéria na Carta Maior, por ocasião de um show que o músico apresentaria em São Paulo. Confira a íntegra abaixo:
ENTREVISTA - PENA BRANCA
Ícone da verdadeira música sertaneja faz apresentação única em SP
Em entrevista à Carta Maior, Pena Branca critica “as injustiças” do mercado fonográfico “que fabrica os sucessos”. Sobre as duplas que se repetem nos rádios e nos programas de domingo, ele diz que “os meninos não são os culpados. Eles têm que entrar no jogo das gravadoras. Tem que vender”.
Carlos Gustavo Yoda - Carta Maior
SÃO PAULO - “Todo dia o sol levanta / E a gente canta / Ao sol de todo dia. Fim da tarde a terra cora / E a gente chora / Porque finda a tarde. Vem a noite a lua mansa / E a gente dança / Venerando a noite”. É com os versos de Caetano Veloso que José Ramiro Sobrinho, mais conhecido como Pena Branca, dirá boa noite ao público, sexta-feira (7), a partir das 21h, no Sesc Santana, em São Paulo.
Uma das maiores referências da música sertaneja de raiz, Pena Branca iniciou sua carreira em 1961 formando dupla com Xavantinho. Foi ainda onde nasceu, em Uberlândia, que José Ramiro aprendeu “de orelha”, como diz, a tocar cavaquinho com o pai.
Em entrevista para a Carta Maior, Pena Branca criticou “as injustiças” do mercado fonográfico “que fabrica os sucessos”. Sobre a onda sertaneja passada e as duplas que se repetem nos rádios e nos programas de domingo, ele disse que “os meninos não são os culpados. Eles têm que entrar no jogo das gravadoras. Tem que vender”.
O “mano véio” sertanejo faz um paralelo com o movimento baiano. Ele se lembra de quando foi jurado de um festival e votou em Ivete Sangalo, ainda no início de carreira dela, com a Banda Eva. “Aquilo no início trazia muitos elementos das cantigas populares de roda. Foi só depois que o Axé virou o que nós sabemos bem”, critica.
Para ele, é difícil até hoje manter um trabalho de raiz sem se render às fórmulas mágicas e ao jabaculê da indústria cultural. Pena Branca, no entanto, se diz impressionado com a massiva presença de jovens em suas apresentações. “Parece que faltam referências. O discurso da música do campo sobre o campo, falando do pobre, das diferenças, de dor e fé atrai os jovens que buscam a essência da música brasileira. Há uma carência musical muito grande”.
Para matar essa carência, no palco, Pena Branca apresentará também o resultado de mais de 40 anos de carreira e relembrará a trajetória ao lado de seu irmão, Xavantinho, que faleceu em 1999. O repertório do show também traz canções dos dois discos solos de Pena Branca: Semente Caipira (2000), que foi idealizado com Xavantinho quando ele ainda era vivo, e Pena Branca Canta Xavantinho (2002). Além disso, alguns clássicos também fazem a platéia viajar no tempo, como Chico Mineiro (Tonico e Tinoco), Vaca Estrela Boi Fubá (Patativa do Assaré) e De Papo pro Ar (Pena Branca e Xavantinho), entre outros.
A apresentação única acontece nesta sexta às 21 horas, no Sesc Santana, que fica na avenida Luiz Dumont Villares, 579 – Santana. Os ingressos custam entre R$ 4,00 e R$ 10,00.